Como todos sabem, estamos nos preparando para o lançamento do primeiro gibi do Detrito, seguido por seu desenho animado. Mas como esta história começou? Quando ao drama do professor Renato Barros, você acompanha em nossa HQ. Mas resolvemos mostrar por aqui um dos fatos que colaboraram para que a construção da personagem pudesse ter uma dose certa de realidade. Abaixo, segue a reprodução da matéria publicada no jornal O Dia de 01/05/2012:
Rio – Policiais do 16º BPM (Olaria)á) encontraram, no início da madrugada desta terça-feira, o carro que foi roubado com material radioativo em Duque de Caxias, no domingo. O veículo foi achado abandonado na Rua Ministro Pinto da Luz, em Cordovil, um dos acessos à Cidade Alta pela Avenida Brasil, na Zona Norte, após uma denúncia ao batalhão. A cápsula metálica contendo o Selênio 75 não foi violada e não houve manuseio do material.
“O equipamento está em perfeitas condições e não foi violado. Acreditamos que os criminosos roubaram o veículo aleatoriamente”, disse João Carlos Videira José diretor comercial e um dos sócios da Arctest Serviços Técnicos de Inspeção e Manutenção Industrial, dona do material. Ainda segundo ele, a cápsula onde o Selênio 75 é transportado, é duplamente blindada e não oferece risco caso não seja violada. Esse material radioativo é usado em soldas e equipamentos industriais, como tanques, vasos de pressão e peças automotivas.
Os PMs foram acionados para o local por volta de 0h30. A informação anônima dava conta de que um Renault Logan prata com as mesmas características do roubado da empresa, na Rodovia Washington Luís, estava estacionado na rua. O carro placa ENX-3304, de Paulínia (SP), onde está sediada a Arctest, estava com as portas destrancadas, mas com o porta-malas fechado. Nenhum suspeito foi encontrado próximo ao local.
O policiais acionaram bombeiros do quartel de Irajá que chamaram os colegas do Grupamento de Operações com Produtos Perigosos (GOPP). Eles, por sua vez, entraram em contato com técnicos da equipe de emergência do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), ligado ao Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que seguiram para o local.
De acordo com o comandante do GOPP, tenente-coronel André Morgado, bombeiros e técnicos mediram o nível de radiação do local e constataram que ele estava dentro dos padrões normais e que não havia vazamento. Segundo o major bombeiro Fábio Andrade, como o porta-malas onde a cápsula com o selênio 75 estava sendo transportado quando roubado estava fechado, eles optaram, por medida de segurança, retirar o banco traseiro para acessar o compartimento. A mala foi aberta e o objeto encontrado. Ele foi levado em outro carro da Arctest, devidamente sinalizado com alertas de transporte de material radioativo. O veículo foi levado para a base da empresa em Duque de Caxias.
“A ação do Cnen e da imprensa ajudando a divulgar os riscos de se violar o material foram decisivos para que esse caso terminasse sem feridos. Era muito difícil ocorrer uma violação. A segurança é muito redundante. Se tivesse violação haveria danos à saúde para quem tivesse contato com a carga radioativa”, enalteceu João Carlos Videira.
Em coletiva na segunda-feira, o diretor geral de proteção e segurança da CNEN, Ivan Salati, já havia alertado para o perigo do compartimento com o Selênio 75 ser violado. “O risco é a abertura da fonte. A radiação gama é penetrante, pode afetar tecidos. Quem manipular pode ter queimaduras e, dependendo do tempo, pode haver risco de morte”, disse na entrevista.
“Para evitar problemas de saúde numa situação como essa são necessários tempo, blindagem e distância. Os órgãos envolvidos agiram de forma rápida, o material permanecia acondicionado nas condições de segurança e tomamos todos os procedimentos para analisar e preservar o local”, analisou o tenente-coronel Morgado.
O diretor comercial da Arctest voltou a dizer que o uso de GPS no transporte de material radioativo não é obrigatório, que a empresa não usa o dispositivo em seus carros, mas que o transporte da carga é feito seguindo todas as normas de segurança exigidos. “As incidência de roubos de veículos transportando esse tipo de material são poucas”, minimizou Videira.
Já o carro roubado foi levado para a 38ª DP (Brás de Pina), onde foi registrada a ocorrência. Ninguém foi preso.
Apelo do Governo
Nesta segunda-feira, o secretário estadual de Defesa Civil, Sérgio Simões, fez um apelo à população para que ajudasse nas buscas ao Renault Logan prata roubado na madrugada de domingo na Rodovia Washington Luiz. O risco era de que o material, que está protegido por cápsula, fosse aberto.
O veículo, placa ENX-3304, de São Paulo, quando roubado tinha adesivos nas portas com o nome da Arctest e alertas de que transporta material radioativo. “A fonte está numa caixa metálica fixada no veículo, que guarda uma cápsula. O risco é a abertura dessa fonte. A radiação gama é penetrante, pode afetar tecidos. Quem manipular pode ter queimaduras e, dependendo do tempo, pode haver risco de morte”, alertou Ivan Salati, diretor geral de proteção e segurança nuclear da Comissão Nacional e Energia Nuclear.
Transportado de acordo com as normas
O carro roubado, apesar de transportar um equipamento de risco à população, não possuía equipamento de GPS. O rastreamento, de acordo com Salati, não é obrigatório nos veículos que transportam esse tipo de material.
O físico garantiu que o material — usado em raio-x de soldas específicas, como a de navios — estava sendo transportado de forma adequada. De acordo com a Cnen, a Arctest é regularizada. “O uso de GPS não é exigido por lei. Isso (o roubo de veículos com material radioativo) é fato eventual, embora preocupante. É algo que a gente pode discutir para tentar aperfeiçoar o processo”, admitiu.
Tragédia com Césio em Goiás
Em setembro de 1987, um equipamento com uma cápsula com césio 137 que havia sido abandonado pelo Instituto Goiano de Radioterapia foi parar num ferro-velho em Goiânia. O dono do ferro velho abriu a peça e se encantou com o material, que irradiava luz azul, e levou o césio para casa.
Quatro pessoas morreram. Centenas foram contaminadas no maior acidente radioativo do Brasil. Segundo Salati, não existe risco de o selênio 75 que está no carro causar acidente como o de Goiânia. “O volume da fonte é menor, a energia do selênio 75 é menor que a do Césio. A atividade do Selênio 75 é 100 vezes menor”.